Programa das Jornadas de Arroios

24 de Setembro de 2022. Liceu Camões (Entrada pela Rua Almirante Barroso, nº 25)

PROGRAMA

11:00 – 11:15 – Recepção aos participantes

11:15 – 11:30 – Introdução e boas-vindas 

11:30 – 13:00 – OFICINAS PARALELAS:

A. Transição energética nos bairros: autonomia e alternativas

B. Crise Alimentar – Activismo e alternativas

13:00 – 14:00 – Almoço

14:00 – 15:20 – Uma outra forma de vida – convite para uma conversa sobre organização

15:30 – 16:50 – Cultura, associativismo e (sobretudo) outr*s coisas

17:00 – 17:30 – Plenário

Sinopses das oficinas

Transição energética nos bairros: autonomia e alternativas
A atual crise energética e o aumento da inflação estão a criar aumentos de preços em muitos bens essenciais, com especial foco na energia (eletricidade, gás natural), de que todos necessitamos para cozinhar, aquecer, arrefecer ou iluminar as nossas casas. Neste contexto, é especialmente preocupante que grande parte da energia que consumimos seja produzida por grandes empresas do setor energético, que olham para a energia como qualquer outra mercadoria sujeita às valorizações de mercado. Nestes tempos de crise e de aumentos brutais dos preços nos mercados energéticos, são estas empresas que registam grandes lucros.
Infelizmente, serão os mais pobres, mas também as mulheres, as crianças ou as pessoas racializadas que mais rapidamente sentirão os efeitos da assimetria no acesso a energia de qualidade e que estarão menos capazes para fazer frente a esta situação.A tudo isto juntam-se os efeitos das alterações climáticas e a necessidade de fazer avançar a transição energética em todo o lado, mas em especial nas cidades onde, justamente, vive uma parte considerável das populações mais vulneráveis. Para fazer frente a esta situação é necessário mais e melhor isolamento térmico nas habitações para enfrentar temperaturas extremas, mas também o aumento da energia solar fotovoltaica acessível a todos, ou formas justas e eficazes de controlar o consumo. 
Mas, embora essenciais, estas medidas podem não ser suficientes para fazer frente à crise que se avizinha. É necessário ir mais além e notar que, ao nível de um bairro ou de uma cidade, é necessário um maior controlo coletivo sobre a produção e o consumo da nossa energia, e que apenas uma visão da energia como bem comum, social e coletivo pode produzir respostas que sirvam a todos.
Nesta oficina vamos conhecer e debater o que podem ser alternativas e respostas sociais a partir da base na área da energia. Vamos começar por compreender o momento que atravessa o sistema energético e a partir daí discutir formas de identificar e responder à pobreza energética, pensar no que pode ser uma rede de solidariedade energética e qual o potencial das cooperativas e das Comunidade de Energia Renovável na criação de comunidades capazes de enfrentar a crise que se avizinha.

Crise Alimentar – Activismo e alternativas
O lucrativo sistema agroalimentar industrial é responsável pelo agravamento de desigualdades sociais, pela insegurança alimentar e pela fome, pelo surgimento de doenças e pelo desequilíbrio ambiental. Na atual crise alimentar, as justificações geopolíticas (como guerra, a crise dos combustíveis fósseis e dos cereais, etc.) normalizam a aceitação da escassez, quando a principal questão é a priorização dos lucros. Nada disto é novo. A crise alimentar é lucrativa e alimenta a agroindústria. 
Portugal é um dos países da União Europeia com maior subida de preços nos bens alimentares, e assistimos atualmente a uma acentuação da miséria: os pobres comem cada vez mais produtos processados e cancerígenos, enquanto que os ricos comem produtos biológicos e alcalinos.
Na zona de Arroios há uma série de pessoas e coletivos que já há alguns anos praticam alternativas na área da alimentação: cooperativas de distribuição, cantinas solidárias e hortas comunitárias, entre outras. Estes projetos consolidam resistências e evidenciam opções que nos ajudam a pensar e a tomar decisões sobre a origem do que consumimos,como se produziu e em que condições, e como chegou até nós. A ideia desta oficina é debater sobre alternativas às grandes cadeias alimentares e aos seus círculos, abordar diversas formas de ativismo alimentar e partilhar experiências práticas.

Uma outra forma de vida – convite para uma conversa sobre organização 
“Perante a evidência da catástrofe, há os que se indignam e os que agem, os que denunciam e os que se organizam. Nós estamos do lado dos que se organizam.”
Nunca estas palavras fizeram tanto sentido. Quando o mundo caminha em chamas, entre furacões e misérias de todo o tipo que precipitam o colapso humano, social e ambiental, nós estamos do lado dos que se organizam para tornar efectivos os gestos que contrariam e procuram subtrair-se ao domínio do capitalismo e à sua dinâmica destrutiva. Estamos do lado dos que se propõem a construir uma forma de vida outra, coletiva, autónoma e solidária, dando consistência e consequência à indignação e à vontade de ação e denúncia que muitos sentimos.
Mas como nos organizamos? Com quem? Com que objectivos? Estas – e outras – são as perguntas que temos de nos colocar e a que queremos tentar responder, contando com as experiências e sensibilidades de todos, valorizando aquilo que nos aproxima e talvez mais ainda o que nos afasta. A nossa organização não é um vínculo de poder e hierarquia, mas uma posição comum perante o mundo e a capacidade de agir sobre ele. 
Estas palavras não são mais do que o ponto de partida da conversa, e estão todos convidados a participar.

Cultura, associativismo e (sobretudo) outr*s coisas
Nos últimos anos, fixaram-se em Arroios inúmeros artistas e projectos culturais. Salas onde antes havia oficinas de sapateiros ou mercearias alojam agora ateliers, espaços onde não se sabe bem o que acontece. Se, por um lado, a maioria dos trabalhadores da cultura é muito precarizada, por outro, a sua presença nos bairros influencia a alteração do seu perfil classe, a subida das rendas, e o precipitar da gentrificação. 
Escutando a partilha das vivências de colectivos, grupos informais e outras pessoas, propomos pensar o ecossistema cultural de Arroios, com os seus paradoxos e possibilidades. Nele, a “associação” surgiu como figura legal que possibilita uma série de atividades não subordinadas ao lucro. Mas, ao mesmo tempo, a escassez de meios (espaços, financiamento, etc.) e a precariedade resultantes da dinâmica capitalista a que também a cultura está sujeita fazem com que, muitas vezes, as associações tenham de cristalizar-se em identidades fixas de espírito mais funcionalista, sem tempo para se ligarem à realidade diária e em contínua mutação da cidade.
Que outras táticas de ocupação do espaço, de criação e de partilha existem? O que é que não está nos estatutos das associações e outras instituições e que as faz mexer localmente? Que modos de agir informais e autónomos nascem? De que modos o bairro e a cultura se perfazem nas dimensões quer das artes plásticas ou da música, do cinema ou do teatro, por exemplo, quer da possibilidade sempre emergente de viver/celebrar os seus espaços?

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